segunda-feira, 11 de outubro de 2010

UNTITLED

Eu ainda sentia pontos de queimação no meu corpo, por causa do incêndio. Mas essa dor não se comparava com a que eu sentia agora, a dor da culpa que ia me destruindo aos poucos. Eu sentia culpa pelo que? Eu não me recordava de nada, só do incêndio, mas não consigo entender qual culpa eu tenho nisto.
  Finalmente olho para os lados e reconheço o lugar onde eu estou, era o mesmo prédio que pegou fogo essa noite.
 Minha mãe chorava com todas as lágrimas que podia, chamando pelo meu nome.
 - Mãe, eu estou aqui! – Falei. Mas não aconteceu o que eu pensava, ela não correu para me abraçar e afagar meu cabelo. Ela simplesmente não se mexeu. Será que não me ouviu chamando?
 - MÃE? – Falei mais alto, mas mesmo assim ela não me escutou.
 De repente fui levada mais cedo, naquela noite, minhas memórias cada vez ficando mais fortes, até que com clareza me lembrei de tudo o que ocorreu.

Eu estava no computador, quando faltou luz. Não havia ninguém em casa, então fui até o porão pegar uma caixa de fósforos e uma vela, assim poderia ficar lendo até a luz voltar. Tranquei a porta do meu quarto, deitei na minha cama e coloquei a vela na mesa que havia do lado dela. Peguei meu livro favorito para ler, tinha lido umas 10 páginas quando adormeci. Passaram-se umas 2 horas e eu senti um calor insuportável, tirei todas as cobertas, mas não adiantou, o calor continuava aumentando. Abri meus olhos, mas não conseguia enxergar, pois havia uma fumaça muito densa cobrindo todo meu quarto. Olhei para a mesa ao lado da minha cama e vi que a vela que eu havia pegado caiu no chão de madeira e estava provocando um incêndio. Levantei correndo da cama, mas vi que não conseguiria ir até a porta, no chão havia uma trilha de fogo ao redor da minha cama. Fiquei uns minutos pensando e corri, sentindo queimaduras em minhas pernas. Fui tentar abrir a porta de meu quarto mas ela estava trancada e eu não lembrava aonde estava a chave. Cai no chão, não conseguindo mais respirar, tentei colocar uma blusa tapando meu rosto, como vi num filme, mas não adiantou. Acabei morrendo lá, encostada a porta de meu quarto, lembrando agora, que a chave estava em cima da minha cama.

Era isso então. O sentimento de culpa que passava por minhas veias ocorria por que tinha sido eu que provoquei o incêndio. Agora sim eu entendi por que minha mãe chorava, e não podia me ver. Agora que eu entendia, a culpa estava sumindo aos poucos, eu me culpava mais por não entender o que havia acontecido, por não entender que eu estava morta. Passei as costas da mão pelo rosto de minha mãe, mesmo sabendo que ela não podia sentir, mas por um milagre, ela estremeceu. Vi que uma luz alaranjada, brilhante estava a minha frente, e dentro dela havia meu pai, que morreu a muitos anos.
 - Adeus – falei, sabendo que ninguém podia me ouvir, e entrei naquela luz brilhante, sabendo que agora poderia ter paz.  

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